
Localização: Zona Norte, Sorocaba/SP
Ano do Projeto: 2015
Status: Estudo (Trabalho Final de Graduação)
Orientador: Prof.º Dr. Luiz Antonio de Paula Nunes
Parque Linear
Ulysses Guimarães
Projeto por: Jéssica Vilela Nascimento

Uso e preservação das áreas das margens de rios e córregos urbanos.



Uso e preservação das áreas das margens de rios e córregos urbanos.
Ao fazer um projeto de intervenção urbana é necessário observar não apenas os edifícios e como interagem com o entorno, mas também os vazios urbanos, e como a cidade interage ou não com eles, chegando a ideia de que a arquitetura não é feita somente de prédios, grandes construções de concreto e de ruas asfaltadas, ela também é feita de áreas verdes e vazias, e da ausência de construções. Grandes edifícios não precisam sempre ser adotados como local para que tenham uma função na sociedade, já em áreas verdes é o uso e a qualidade dados a esses espaços que lhe conferem importância.


A partir do momento que a cidade abandona suas áreas verdes urbanas, ela acaba por não criar vínculos entre os cidadãos e essas áreas, de forma que não incentiva sua preservação. Os espaços públicos são uma importante forma de preservar esses lugares, além de lhes trazer segurança e vida. Segundo Lynch (apud BRAGA; SOUSA, 2011), a qualidade visual da cidade pode ser entendida através da imagem, estudando seus principais acessos, calçadas, cores e forma, tudo isso depende da estrutura da cidade.
Os espaços públicos criados precisam ser convidativos, e principalmente possuir uma função além de ser propriamente um parque, para que sempre tenham pessoas o utilizando. Precisam também ser espaços agradáveis, com atrativos que criem expectativas positivas nas pessoas. Segundo Angelis e Loboda (2005) a arborização urbana tem papel diferencial sobre as pessoas, mexendo desde com sua saúde ate censo crítico.
Em busca de valorizar as áreas naturais as áreas de preservação se tornaram parques, que foi uma forma de se criar cidades sem o stress e o caos do dia a dia (ALEX, 2008). Através de um parque linear os córregos e áreas verdes passam a ser entendidos como espaço de convívio, e não mais como uma barreira. A intenção de um parque linear é a de conciliar recuperação ambiental às margens dos rios e córregos “com a provisão de espaços livres e verdes à população, articulados a áreas habitacionais” (SUBPREFEITURA, s.d.).
Como já citado, o parque será implantado na cidade de Sorocaba, que é a quarta cidade mais populosa do interior do estado de São Paulo, com 637.187 habitantes, de acordo com censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 50% dessa população encontra-se hoje na Região Norte, zona específica em que o parque estará locado.

Localização e pontos de referência
A Zona Norte é a região mais populosa da cidade, porém esse crescimento é recente, tendo tido início nos últimos quinze anos (VIVA CIDADE, s.d.). Segundo Bonamim (2014), devemos considerar, além do parcelamento do solo, a duplicação e urbanização das Avenidas Itavuvu e Ipanema e o incremento do uso industrial, especialmente com a vinda da Toyota, como principais fatores para esse crescimento.
A Avenida Ulysses Guimarães, no Parque das Laranjeiras, foi inaugurada em agosto de 2012, com o principal objetivo de viabilizar o trânsito entre a Zona Industrial e as Avenidas Itavuvu e Ipanema. A ponte Engenheiro José Nelson Carneiro Val construída no final da avenida, é a maior da cidade, com 180m de extensão e a 16m de altura em relação ao Rio Sorocaba. As margens dos córregos ao longo dessa avenida e as margens do rio encontram-se degradadas, porém a cidade de Sorocaba vem criando uma relação de preservação com suas APP, possuindo cerca de trinta parques, sendo que o plano da prefeitura é articular esses parques, criando uma grande área verde interligada permeando toda a cidade.

Avenida Ulysses Guimarães

Margens do córrego
Após as pesquisas conceituais e o diagnóstico da área, foram analisados alguns parques da cidade, sendo eles o Parque das Águas, o Parque Campolim e o Parque Natural Chico Mendes, para assim estabelecer uma noção do que a população da cidade espera encontrar de equipamentos num parque. Além desses, foram analisados os conceitos utilizados em três diferentes parques, sendo eles o Parque Cantinho do Céu, em São Paulo analisado por sua infraestrutura, o Parc de la Villete, em Paris, analisado por sua implantação funcional, e o Centro Max Feffer, no Município de Pardinho, analisado por sua construção.

Parque das Águas

Parque Campolim

Parque Chico Mendes

Parque Cantinho do Céu

Parc de la Villete

Centro Max Feffer
Através dessas pesquisas foram criadas propostas, buscando utilizar no estudo preliminar do parque os conceitos pesquisados, respeitando realmente as características de áreas ambientalmente sensíveis. Através dos diagnósticos foi possível perceber as problemáticas envolvidas nessa região, e a intenção desse estudo é conseguir resolver esses déficits através da arquitetura, podendo assim, ressaltar nessa área seus aspectos positivos, que são suas áreas verdes, criando um impacto positivo crescente nessa região.
A implantação do parque foi dividida em cinco setores, sendo eles o setor setor de Caminhada, o setor Avenida Itavuvu Cultural, o setor Feira Livre, setor Ecológico e o setor Cultural Esportivo. Cada um projetado respeitando as áreas de preservação e trazendo uso as margens do rio e córregos. O principal setor é o Cultural Esportivo, porém não faria sentido utilizar somente sua área sem reestruturar toda a Avenida Ulysses Guimarães.


Setorização do Parque Linear Ulysses Guimarães
Embora o Complexo Cultural Esportivo seja o principal setor do projeto, não faria sentido intervir naquela área sem reestruturar toda a Avenida, pois em todo o percurso do córrego está degradado. Por se tratar de uma avenida de uso residencial predominante nem existem áreas de permanência, desincentivando que os moradores trafeguem pelas ruas, e com o passar do tempo essa avenida passou a ser um local perigoso.
O tema do projeto é "uso e preservação", e a preservação foi priorizada em cada etapa, sendo assim as faixas de APP nas margens do córrego e do rio foram totalmente preservadas e arborizadas. Para mistificar o uso em todo o percurso da avenida, foram implantados quiosques de uso indefinido, que podem ser usados como lanchonetes, restaurantes, lojas, além de cada quiosque possuir banheiros públicos, fazendo suporte ao parque.

Implantação Geral do Parque
O Complexo Cultural Esportivo está locado numa área 'abraçada' pelo rio, e como forma de integrar o rio ao parque, sua implantação foi setorizada em gotas, como se as gotas do rio reverberassem pelo paisagismo do parque, reverberações essas que são acentuadas pelos espelhos d'água, pelas arquibancadas, pelos caminhos que se repetem. Cada gota foi pensada de forma que comportasse melhor cada setor, comportando áreas de eventos e apresentações, centro de convivências, área esportiva com vestiário, restaurante, playground, academia, anfiteatro, e um posto da guarda municipal, para contribuir na organização dos eventos e garantir maior segurança no uso noturno. O paisagismo foi pensado de forma que o parque tenha diferentes cores nas diferentes épocas do ano, além de árvores frutíferas implantadas fora da área de piso, de forma que seus frutos adubem, além de atrair aves silvestres.

Implantação Complexo Cultural Esportivo

Cortes Complexo Cultural Esportivo
Em contraste as linhas orgânicas do paisagismo, as construções possuem linhas retas, distinguindo assim o contemplativo do utilitário. Apenas o anfiteatro possui linhas orgânicas, mas como o objetivo dessa construção não é servir aos visitantes e sim a quem se apresentará, seu desenho pode se confundir entre as linhas curvas do paisagismo. A principal edificação desse setor é o Centro de Convicências, porém sua importância é dada a partir do contjunto da implantação como um todo. A maioria das construções são elevadas, garantindo maior permeabilidade do solo, e evitando danos com possíveis alagamentos. Para as coberturas foi priorizado o teto verde, garantindo além da captação de água da chuva, maior conforto interno nos ambientes.

Centro de Convivência

Gota de Esportes

Gota do Restaurante

Área do Anfiteatro

Anfiteatro

Centro de Convivências

Centro de Convivências
Embora a princípio seja impactante a desapropriação de mais de 450 residências, vale lembrar o exemplo do Parque Cantinho do Céu, que teve intervenções de proporções muito maiores que a proposta no Parque Linear Ulysses Guimarães. No Parque Cantinho do Céu a própria comunidade colaborou para a intervenção dessa área, que hoje é um forte exemplo de reestruturação de área ambientalmente sensível. As áreas verdes são um bem de toda população, jamais deveriam ser exploradas beneficiando os interesses de uma minoria. Por maiores que sejam os empecilhos para obras de intervenção em APP, quando a cidade investe em espaços públicos nessas áreas, principalmente quando esse gera interesses voltados ao esporte e a educação, o impacto positivo tende a reverberar por toda a cidade.
Referências:
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AGÊNCIA nacional de águas. Disponível em: <http://premio.ana.gov.br/Edicao/2014/ projeto -detalhe.aspx?id=42&$ListID=A2CB8C6D-6FE2-4E67-BD57-5254DBCF88DD>. Acesso em: 16 abr. 2015.
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ALEX, Sun. Projeto da praça: convívio e exclusão no espaço público, São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
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ANGELIS, Bruno Luiz Domingos; LOBODA, Carlos Roberto. Áreas verdes públicas urbanas: conceito, usos e funções. Ambiência – Revista do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, v. 1, n. 1, jan./jun. 2005. Disponível em: <http://200.201.10.18/index.php/ambiencia/article/view/157/185> Acesso em: 08 mar. 2015.
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BONAMIM, Giuliano. Quase a metade da população de Sorocaba está concentrada nos bairros da zona norte. Cruzeiro do Sul. Sorocaba, SP. 12 mar. 2014. Disponível em: <http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/536047/quase-a-metade-da-populacao-de-sorocaba-esta-concentrada-nos-bairros-da-zona-norte>. Acesso em: 14 nov. 2014.
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BRAGA, Roberto; SOUSA, Marcos Timóteo Rodrigues de. As influências do efeito barreira na dinâmica das cidades. Geografar, Curitiba, v. 6, n. 1, p. 135-160, jun. 2011. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/geografar/article/view /21807/ 14201> Acesso em:08 mar. 2015.
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Elaboração própria baseada no Google Street View.
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KNOLL, Fabio. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/ 12.135/4015>Acesso em: 20 abr. 2015.
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MEIO AMBIENTE, Secretaria do. Disponível em: <http://www.meioambiente sorocaba. com.br/ Pagina.aspx?pg=27> Acesso em: 22abr. 2015.
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PENARROYO, Cyrus. ArchDaily.Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-160419/classicos-da-arquitetura-parc-de-la-villette-bernard-tschumi>. Acesso em: 12 abr. 2015.
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Prêmio Ana. Disponível em: <http://premio. ana.gov.br/Edicao/2014/projeto-detalhe.aspx?id =42&$ListID=A2CB8C6D-6FE2-4E67-BD57-5254D BCF88DD >Acesso em: 22 abr. 2015.
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ROMA, Marcelo. Disponível em: <http://www.cruzeirodosul.inf.br/galeria/ 119300>.Acesso em: 01 maio. 2015.
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SUBPREFEITURA Capela do Socorro. Parque Linear Ribeirão e Braço do Cocaia. Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos – LabHab / FAUUSP. Disponível em: <http://www.usp.br/fau/depprojeto/labhab/biblioteca/produtos/ pesquisa_analise_viabparques03.pdf>. Acesso em: 15mar. 2015.
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URBANISTICA.Disponível em: <http://www.urbanistica.unipr.it/components/com_jcustomnews/i mgs/279/superfici.jpg>. Acesso em: 10 maio 2015.
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VIVA CIDADE. Disponível em: <http://www.vivacidade.com.br/gv_regioes_ regiao.php?id_ regiao=9>. Acesso em: 13 nov. 2014.